terça-feira, 29 de janeiro de 2008

"Manual para criação de curió"

Todos nós passarinheiros principalmente criadores dessa pequena "grande" ave (curió), tem de certa forma um manejo, ou forma de cuidar dessas aves, adquiridos através de experiências pessoais de anos de criação, ou até mesmo repassadas por amigos passarinheiros que já são figurinhas carimbadas no assunto.
Mais aqueles que tem interesse a começar a criação, ou adquirir um curió para curtir seu adorável canto, vai algumas dicas retiradas de um texto muito interessante.
Vale ressaltar que, como eu disse a pouco, cada passarinheiro tem suas próprias "regras", ou jeito como lidar com seus pássaros, mais no geral o texto abaixo servirá como uma boa base aos inexperientes.

O CURIÓ:

Sempre é bom citar a origem desse nome e o que significa. Trata-se de uma palavra de origem indígena (Tupi-guarani) e significa “amigo do homem”. Os indígenas o chamaram dessa maneira, devido à freqüência com que os curiós freqüentavam os locais habitados, as aldeias. Os indígenas o admiravam pelo seu canto, pelo seu destemor em não se acanhar com a presença do homem.

Pertence à Ordem dos Passeriformes, Família Fringillidae, Gênero Oryzoborus, Espécie Angolensis. O seu “primo” não menos famoso é o Bicudo, com o qual produz híbridos. Além do bicudo, o curió produz híbridos com a Patativa Verdadeira e a Patativa Chorona.

Particularmente não gosto de promover cruzamentos entres espécies diferentes. Acredito que o objetivo da hibridação é obter indivíduos que venham enriquecer e melhorar a espécie, o que não acontece com tais hibridações. Ao contrario da hibridação do canário com o Tarim, que introduziu fatores relevantes para a canaricultura, tais hibridações, com o curió, não levam a objetivos precisos para o melhoramento da espécie.

Sua distribuição vai por toda a América do sul, exceto os Andes, passando por alguns paises da América Central, atingindo o México na América do Norte. Encontrado somente em locais que ainda não foram devastados pelo homem. Devido a sua larga distribuição, pode variar, em sua aparência física, de região para região. Pode ser de porte maior no sul de São Paulo, menor no Amapá, pode apresentar o bico mais fino em determinadas regiões e assim por diante. As variações não são tão acentuadas que caracterizem uma subespécie.

Apresentam uma bela plumagem. O macho tem a cor predominante preta, em todo o dorso; o vinho é acentuado em seu abdômen, podendo apresentar espelho branco nas asas, ou não. Devido à acentuada cor vinho, também recebe o nome popular de Avinhado.

A fêmea tem o porte menor, de cor pardo-marrom, da mesma cor que os filhotes imaturos. O dimorfismo sexual é acentuado após atingida a idade adulta. Ambos podem viver por mais de 20 anos, em cativeiro. Na natureza talvez vivam um pouco menos, devido às condições climáticas e predadores naturais.

Chegam-nos noticias que curiós em cativeiro sobreviveram por mais de 35 anos, que é o caso do curió Guarany, campeão de canto Praia Clássico com repetição. Outro exemplo é o próprio Ana Dias, que sobreviveu em cativeiro por mais de 30 anos.

Devido à quase domesticação do curió, os rebentos nascidos em cativeiro não sobreviveriam se soltos na natureza. Já se passaram muitas gerações em cativeiro e o animal perde o extinto de caçador e não consegue caçar o suficiente para se alimentar. Sua reintrodução na natureza dependeria de estudos e de um trabalho conduzido por especialistas no assunto

O curió é um dos passarinhos mais procurados para serem criados. Tal demanda se deve ao seu canto mavioso. A oferta, em muitas temporadas, fica aquém da demanda, ocasião em que os preços sofrem uma inflação brusca, o que torna inacessível a aquisição por grande parte dos interessados. Os curiós são comercializados de diferentes formas. Existem criadores que preferem vender as ninhadas. Os filhotes são comercializados ainda no ninho e até a idade de 60 dias. Nesse estágio a ninhada de 2 filhotes é comercializada por valores que variam de 250 a 1200 reais. Particularmente julgo inescrupulosa uma ninhada custar mais do que seiscentos reais, mesmo que seja oriunda de criatório possuidor de campeões. Mas......

Outra forma em que se encontram curiós disponíveis, à venda, é em uma fase posterior, ou seja, os filhotes já chilreando, soltando os primeiros assovios. O criador “segura” um pouco mais os filhotes e agrega valores ao produto, com o inicio de treinamento para determinados cantos.

Dificilmente um curió já feito é comercializado. Envolvem valores elevados e não são negócios para simples curiozeiros amadores.

O CURIÓ ANA DIAS:

Não poderíamos escrever qualquer matéria sobre curiós e deixar de citar o curió Ana Dias. Esse curió foi o marco de partida e serviu de incentivo a vários passarinheiros a se dedicarem à criação e aperfeiçoamento da espécie. É o curió mais citado, mais famoso e o que gravou maior quantidade de discos e cds. Existe uma quantidade razoável de gravações em varias versões, cada uma destinada a uma fase de ensinamento dos filhotes.

Foi apanhado no litoral sul do Estado de São Paulo, no município de Itariri. Na época em que foi capturado já demonstrava a qualidade de grande repetidor com o seu canto original. Já em cativeiro, aprimorou o canto Praia Grande, lembrando os acordes de um violino. Seu canto tem a classificação na modalidade Super Clássico. Tive a satisfação e o prazer de conhece-lo em 1986, uma ano antes de sua morte que aconteceu no dia 22 de Abril de 1987. No capitulo especifico sobre o canto do curió, falaremos sobre os discos gravados do Ana Dias.

CRIAÇÃO DE CURIÓS:

Bem, resolvi criar curiós. O que devo fazer? Como devo proceder?

A criação de pássaros em cativeiro faz parte da cultura do brasileiro. Costume herdado dos indígenas que habitavam nossa terra. Dentre as inúmeras espécies que podem ser criadas em cativeiro, autorizadas pelo Ibama, o curió, talvez, seja o passarinho que mais tenha adeptos.

Decidido a criar curió, você deve pensar e analisar qual o objetivo que você quer alcançar com a criação. Se você quer criar um campeão de canto, não deve se dedicar à procriação, mas sim adquirir um filhote de procedência e se dedicar ao seu treinamento.

Se você pretende cria-los a fim de comercializa-los, você tem duas opções: adquiri matrizes já prontas para iniciar o acasalamento na temporada, ou adquiri filhotas e machos filhotes para iniciar a procriação na temporada seguinte.

A quantidade de matrizes vai depender dos objetivos do teu criatório. Cada fêmea pode efetuar até posturas por temporada, sem força-la demais, observando o período de descanso. Portanto cada fêmea em plena forma poderá gerar de 6 a 9 rebentos por período. Dessa forma você poderá dimensionar o teu criatório, valendo lembrar que, segundo normativo do Ibama, cada criador amador, pessoa física, terá direito a 50 anilhas por temporada, no máximo. Portanto, de nada adiantará você produzir 51 filhotes, pois um deles não será registrado. E pássaro sem registro é ilegal.

Se você pretende criar mais de 50 filhotes por temporada, e isso é valido para qualquer espécie, a modalidade de criador passa a ser comercial. O criador comercial pode ser pessoa física ou jurídica e a burocracia para obter o registro é mais complicada. Assim, os cuidados para não superdimensionar o criatório deve ter peso decisivo na aquisição da quantidade de matrizes.

Atualmente um dos métodos mais utilizado na procriação é o de poligamia, ou seja, um macho para varias fêmeas (cada macho para até dez fêmeas). Não há necessidade de se formar os casais. Quando a fêmea estiver pronta e pedindo gala, solta-se o macho na gaiola. Assim que perceber ou observar que o macho galou a fêmea, retira-se o macho da gaiola.

Mais adiante falaremos detalhadamente sobre o acasalamento.

Da mesma forma estaremos detalhando a maneira de criar um curió destinado ao canto.

Para se obter sucesso na criação e obter rebentos de boa qualidade, alguns cuidados devem ser tomados.

Como sabemos, o futuro de um bom cantor é definido nos primeiros trinta dias de vida e a partir do sexto dia dentro do ovo. É nessa fase que o filhote memoriza todos os sons e qualquer som indesejável vai influenciar no futuro cantor. Portanto, nessa fase e nas outras subseqüentes, fazer com o filhote ouça somente aquilo que você deseja que ele vá cantar. É indesejável que ele ouça fêmeas solteiras, outros filhotes chilreando e principalmente outros curiós cantando com defeito.

Se forem observadas essas regras, metade do filhote está “feito”. A outra metade dependerá do manejo futuro e da origem das matrizes. Em capitulo especial falaremos sobre a hereditariedade e cruzamentos de curiós.

Em qualquer das opções escolhidas (procriação ou canto) o cd ou fita sempre deverá estar presente. Atualmente existe uma gama imensa de cantos gravados em CD ou fitas, que tornam a escolha difícil. Mas com calma e paciência o criador chegará no que deseja. No capitulo referente ao canto daremos todas as dicas de gravações e suas destinações.

O ambiente onde os animais vão habitar, deve ser limpo, arejado e de preferência que receba a luz solar, nem que por poucos minutos, durante o dia. O espaço físico, cujo objetivo é a procriação, deve ser amplo. No mínimo deveremos ter nesse espaço, quatro ambientes, pelo menos, ou possuir isolamento acústico no mesmo ambiente, que chamaremos de modulo. Cada modulo de criação é destinado a receber e acomodar curiós diferentes.

No primeiro modulo iremos acomodar as fêmeas galadas e com postura, chocando e com filhotes. O CD ou fita deverá ser tocado, em volume baixo, suave de maneira que não atrapalhe as fêmeas-mães. As fêmeas em gaiolões individuais, separadas, cada gaiola, por divisórias opacas, para que não se vejam.

No segundo modulo deverão ser alojados os filhotes desmamados, ouvindo o aparelho de som, em volume baixo. O volume do som deve ser avaliado pelo criador, pois cada tipo de acomodação tem sua acústica, portanto não tem como indicar com precisão o volume em que o som deve ser executado. Deve prevalecer o bom senso do criador.

O terceiro módulo deverá ser ocupado pelas fêmeas solteiras e o curió galador. Dessa forma as fêmeas já vão se acostumando com o canto e aceitarão o macho com maior facilidade. Dificilmente uma fêmea que ouve,por exemplo, o canto Paracambi, aceitar gala de outro curió cantando Praia. As fêmeas filhotas devem ouvir o canto do futuro galador.

E, finalmente, um outro modulo com caixas acústicas para isolamento de filhotes que já estão em fase de encartar canto. Caso o criador não disponha de espaço para manter filhotes para encartar canto, é recomendável que se disponha dos filhotes o quanto antes, de preferência logo após o desmame.

Finalmente quero dizer que a escolha de filhotes é fundamental. Portanto as aves devem ser adquiridas de criadores idôneos, que tenham em seu plantel curiós saudáveis, de bom canto, com repetição ou sem repetição, dependendo da escolha de cada um. Sempre deverão ser adquiridos animais registrados e legalizados perante ao Ibama. Tome cuidado com ofertas de fêmeas poedeiras à venda, porque se é boa o criador não vende, a não ser que esteja liquidando o plantel.

Se você nunca criou curiós e quer entrar no ramo, antes de gastar converse com criadores conhecidos, troque idéias, leia, se informe antes de iniciar. Porque depois de adquirido o plantel, somente irá se dar conta se ele é bom ou não, depois de 2 ou três anos e para reiniciar tudo novamente é difícil.

Dê preferências a pássaros novos, de até três meses de idade. Assim farão a muda de ninho no novo ambiente e se acostumarão com maior facilidade à nova vida.

ALIMENTAÇÃO

PASSAROS ADULTOS:

O curió é uma ave granívora. Sua alimentação básica e principal consiste em sementes de alpiste e painço. Vale lembrar que cuidados dever ser dispensados ao painço. É uma semente que deve ser ministrada com certo cuidado, pois “engorda” as aves se ministrado em demasia. Uma ave tratada exclusivamente com painço se tornará obesa. Para evitar isso, devemos sempre oferecer aos curiós o alpiste à vontade no coxo. O painço ou outras sementes, são oferecidas ao pássaro em recipientes separados, tipo porta vitaminas, sempre em pequenas quantidades. Se as sementes forem oferecidas misturadas, o pássaro se alimentará primeiro do painço e depois do alpiste. O alpiste é fundamental.

De tempo em tempo, suspender o fornecimento de qualquer outra semente, mantendo somente o alpiste, é uma pratica saudável. Servirá para revigorar o passarinho, adquirir boa forma física e “desintoxicar” o pássaro.

Deixe pelo menos uma vez ao mês, o passarinho só comer alpiste, durante uns 3 a 4 dias.

Existem, atualmente, no mercado, várias opções de alimentação para curiós. E sempre que falamos em alimentação de pássaros a polemica está criada. É um assunto muito controverso. Tanto que até há alguns anos passados, a receita era para se lavar todas as sementes oferecidas aos passarinhos, para se eliminar resíduos de agrotóxicos ou outras impurezas existentes. Anos depois já não se devia lavar as sementes, pois no processo de secagem certos fungos prejudiciais à saúde das aves eram formados e podiam levar os passarinhos à morte.

O correto é não lavar as sementes, coisa que nunca fiz, e procurar um fornecedor de confiança, que saiba a origem do produto que vende.

UMA BOA RECEITA:

1 - Sementes, conforme descrito acima, disponível diariamente. Não adianta eu receitar ou dizer que a semente do capim navalha é ótimo ou outra semente qualquer. Não se encontra disponível no mercado com freqüência. Devemos oferecer e montar a receita, de acordo com as sementes disponíveis no mercado e que não faltarão. Esporadicamente quando encontradas essas outras sementes podem ser oferecidas. E por falar em capim navalha (tiririca) é bom que se tome cuidado com essa semente. Oferecida em abundância pode causar a hiper-calcificação, prejudicando formação óssea dos filhotes e adultos. Essa semente é muito rica em cálcio.

2 - Alguns passarinheiros entopem a gaiola com potes, coxos, arames pendurados, etc. de tal maneira que o passarinho não consegue nem se mover dentro da gaiola. Basta dois ou três porta vitaminas. Um para quirera de milho, outro para arroz em casca. Esses alimentos sempre deverão estar disponíveis aos passarinhos.

3 - Milho verde: duas vezes por semana. Corte em rodelas, mais ou menos da espessura do vão dos arames da gaiola e pendure. Durante o dia vire a rodela de milho, pois os passarinhos comem tudo e fica só o sabugo. O milho verde pode ser utilizado como veiculo de aplicação de vitaminas, remédios, etc. Basta deixar em infusão, de um dia para outro, na água com o remédio ou vitamina que se quer ministrar. O milho verde se hidrata e absorve o liquido que contem o remédio em suspensão. Basta oferecer o milho verde que indiretamente o curió estará ingerindo o remédio.

4 - Verduras; almeirão ou couve. Uma ou duas vezes por semana. Pepino cortado em rodelas, uma ou duas vezes por semana.

5 - Eu tenho costume de deixar disponível, pendurado na gaiola, um osso de siba.

6 - Proteína animal: pode ser ministrado tenébrio, bicho do amendoim, ovo de codorna cozido, farinha de minhoca, etc. A proteína animal deve ser fornecida obrigatoriamente. O que, ou a maneira como o criador vai oferecer à ave, fica a seu critério, mas deve ser oferecida, pelo menos, duas vezes por semana.

7 - Pão molhado em água. Molhe o pão amanhecido em água mineral e esprema com a mão até ficar levemente úmido. Sirva aos pássaros em porções pequenas. O pão embebido em água e o milho verde sem cozinhar, são excelentes veículos para aplicação de remédios, vitaminas, etc. Através do pão você pode fazer a dosagem dos remédios na água, embeber o pão nessa água e fornecer ao curió. Indiretamente estará sendo medicado.

Com o milho verde o procedimento é o mesmo, só que você pode deixar as rodelas já cortadas em infusão de um dia para o outro. Antes de mergulhar o milho na água, dê uma pequena ralada no milho, de maneira que a membrana que reveste os grãos seja perfurada. Dessa forma o liquido será absorvido em maior quantidade e, também, facilitará o trabalho do pássaro em romper essa membrana.

Tudo isso que acabamos de ver, acima, são opções que o criador pode adotar no manejo de alimentação dos pássaros.

Ou simplesmente resumir a alimentação dos curiós em uma única ração: Top Club.

Há cerca de dois anos comecei a utiliza-la. No inicio, confesso, estava meio relutante em simplesmente oferecer essa ração ao pássaro como única fonte de alimentação.

Passados os primeiros dias os pássaros (dois) já estavam aceitando muito bem a ração; sem problemas de rejeição ou ingestão forçada. Dava para perceber que os pássaros comiam com prazer.

No final do ano passado (2004) tirei duas ninhadas com 3 filhotes, cuja mãe somente se alimentou com a ração especifica para postura (top Club) e reprodução.

A única fonte de alimentação oferecida à mãe, para tratar dos filhotes foi a ração e o milho verde (em dias alternados). Os filhotes saíram sadios e bonitos; bonitos de penas, bom porte e saudaveis.

Hoje todos os pássaros só se alimentam da ração e duas vezes na semana ofereço milho verde.

A alimentação à base da ração, tem vários aspectos positivos, como o fornecimento de todos os sais minerais e vitaminas necessários, na quantidade correta. E, também, pela praticidade no manejo. Com a ração, o criador não precisa se preocupar com a qualidade das sementes, se estão ou não contaminadas, etc. É muito pratica rentável e não oferece riscos ao pássaro.

ALIMENTAÇÃO DE FILHOTES:

Aos filhotes recém separados da mãe, a alimentação deve ser a mesma que a mãe oferecia a eles.

Nessa fase, recém separados e até os 120 dias, é necessário se ministrar maior quantidade de proteína animal. Portanto, a mesma proteína que a mãe dava aos filhotes, o criador deverá continuar oferecendo em quantidade maior do que ofereceria aos adultos.É nessa fase que os filhotes terminarão de formar sua estrutura física e estando em fase de crescimento e formação, a proteína animal é fundamental para obtenção de filhotes graúdos, saudáveis e sem problemas futuros.

Alpiste é o grão que não pode faltar sob hipótese alguma. Como já dissemos, é a semente fundamental para se obter bons resultados na criação.

Os criadores devem utilizar-se do bom senso e ir impondo, de forma gradual, a alimentação que deseja ministrar aos rebentos. Sempre que for introduzir um novo tipo de alimento que o pássaro não esteja acostumado e se houver resistência por parte dele, retire da gaiola os alimentos que ele gosta e deixe somente o recipiente com a comida nova. Aos poucos irá aceitando o alimento até se tornar rotina e não ter mais problemas.

O pão francês, amanhecido, molhado em água e algumas gotas de Protovit também é um excelente alimento e pode ser utilizado como veiculo para aplicação de vitaminas e complexos aos animais. Basta preparar a solução desejada, mergulhar o pão nessa solução, espremer e oferecer aos passarinhos. Comendo o pão, indiretamente estarão ingerindo o medicamento.

Neste momento estou com 5 filhotes. Um com 90 dias, dois com 60 dias e dois com 75 dias. Estão alimentados com o seguinte: coxo principal com alpiste à vontade; coxinho com quirera, outro com arroz em casca e o terceiro com painço. Além desses, o quarto coxinho com ovo cozido passado na peneira salpicado com farinha de minhoca. Proteína servida à vontade, sem medo de intoxicar ou causar qualquer malefício. Deve tomar cuidado com outras vitaminas que, se ministradas em excesso, podem causar danos irreversíveis.

Outra forma de fornecer proteína animal aos filhotes, é separar alguns tenébrios, antes de dar às aves, e deixar com que se alimentem com leite em pó ou neston. Deixe esses tenebrios de um dia para o outro se alimentando com essa mistura. Depois dê aos passarinhos. É um alimento super protéico.

O fornecimento de tenébrio, ou qualquer outro inseto, deve ser vivo. Nunca dê insetos mortos aos passarinhos. O criador pode dar de 4 a 6 tenebrios por dia, divididos em duas ou três vezes. Não dê todos os insetos de uma só vez. Dê uns 3 na parte da manhã e mais uns 2 ou três à tarde,pouco antes do crepúsculo. Assim passarão a noite de “barriga cheia”.

Às filhotas, comprovadamente fêmeas, pode ser fornecida a mistura abaixo, até atingirem a maturidade sexual, em dias alternados ou diariamente.

Providenciar a quantidade conforme o numero de fêmeas:

01 medida de Super Top-Life moído

½ medida de milharina pré cozida

1 gema de ovo cozida, de galinha ou 2 ovos de codorna, passados na peneira.

Fazer a mistura acima e servir aos pássaros. Se servir de manhã, remova o recipiente contendo a mistura,logo após o almoço. Não deixe a mistura à disposição das aves por mais de 3 a 4 horas, principalmente em dias quentes. NUNCA DEIXE DE UM DIA PARA O OUTRO.

VITAMINAS

Vitamina A - Auxilia no crescimento e evita o escorbuto; protege a epiderme; é encontrada no pepino, na gema de ovo e na cenoura

Vitaminas do complexo B - ajudam no desenvolvimento dos filhotes e são indispensáveis ao sistema nervoso; é encontrada no pão, couve, cenouras e gema de ovo.

Vitamina C - Depurativo sanguíneo e preventivo contra moléstia da pele, é encontrada no tomate, laranja e limão.

Vitamina D - Sua ausência causa o raquitismo, é metabolizado através dos raios solares; sua fonte está na gema de ovo e no leite.

Vitamina E - Conhecida como vitamina da fertilidade. Indispensável no período de procriação; é encontrada no germe do trigo, amendoim, agrião e ovo cozido, principalmente de codorna.

Proteínas - Sua principal função é desenvolver o crescimento sadio do pássaro. Importante ainda, para os ossos e pele. Sua fonte é o leite, ovos, pão, cereais, (Tenébrio, bicho do amendoim, etc.

Cálcio - Principal agente formador da estrutura óssea. Serve como coagulador do sangue e formador dos músculos; é encontrado no almeirão, na casca de ovo e no osso de Siba.

Ferro - Responsável pela produção das células sanguineas. Sua principal fonte é o Tenébrio, almeirão e agrião.

Iodo - Essencial durante a fase de filhotes e período de postura; é encontrado no agrião e couve.

DOENÇAS:

Notar alguma anomalia no comportamento habitual de um curió, e conseqüentemente concluir que ele não está bem, não é tarefa das mais difíceis. É que o curió é um pássaro hiper-ativo, não para um instante sequer, sempre pulando e se movimentando; se você observou que ele está parado, quieto, penas estufadas e sem cantar, com certeza alguma moléstia está a caminho. Como primeira medida e que muitas vezes é o suficiente, retire-o de ambiente com corrente de ar e coloque-o em um local arejado, porem sem vento; devemos aquece-lo, para melhorar sua capacidade respiratória e exigir menos esforço para que o pássaro se mantenha à temperatura corporal normal. Como forma de aquece-lo,podemos acender uma lâmpada incandescente, de 40 watts, e deixar próxima à gaiola, todavia sem luz direta sobre o animal.

Fornecer a ele alimentos em abundancia, preferencialmente o alimento que mais gosta; se estiver em ambiente solitário, deixar uma fêmea à meia distancia, para soltar algumas pialadas, isso faz com que o macho se reanime e fique mais alegre. Quanto mais triste e solitário, mais difícil a sua recuperação.

Outra forma de reanima-lo e deixar com que ouça um radio, televisão, qualquer som que seja alegre, que esteja tocando uma musica.

Evitar, por exemplo, que ouça ou veja outro macho. Se ficar perto, com certeza irá querer demandar com o “intruso” e isso poderá agravar o problema, pois o esforço para isso é grande.

Não ministrar antibiótico de forma alguma, antes de diagnosticar o problema com toda certeza. Procure fazer sua recuperação sem a necessidade de antibióticos.

Abaixo vamos citar algumas doenças mais comuns:

COCCIDIOSE - Doença parasitaria, causada por protozoários da ordem Coccidia. O tratamento deve ser preventivo. Dificilmente uma aves se recupera depois da doença instalada.

DIARREIA - Causada por distúrbios gasto intestinais. A causa é conseqüência da alimentação má administrada, contaminação dos recipientes com comida deteriorada ou velha. Suspender a alimentação liquida ou em forma de papinha ou farinhada. Deixar o pássaro se alimentar com sementes. Se a água fornecida não for mineral, mude a água para mineral, pelo menos durante essa fase. Se a diarréia estiver em fase adiantada, o tratamento deve ser com antibióticos. (vide observação).

CORIZA OU RESFRIADO - Infecção das vias respiratórias. O sintoma é a perda de apetite, olhos lacrimejantes e apatia da ave. Para de cantar e se recolhe a um canto da gaiola e fica apático. Tratamento com antibióticos. Fornecer ao pássaro a comida que ele mais aprecia, forçando-o a se alimentar.

SARNA - Doença parasitaria que ataca a plumagem das aves, tornando-as mais espessas e quebradiças. Além de infeccionar o local do encontro da pena com a pele do pássaro. Tratamento preventivo. Existem no mercado sprays destinados a esses fim. Uma das causas da doença é a falta de higiene.

VERMIFUGAÇÃO DAS AVES - Os pássaros devem ser vermifugados pelo menos duas vezes ao ano. Existem vários tipos de vermífugos no mercado. Cada criador devera optar por aquele que melhor lhe convenha. Existem líquidos, para aplicação direta no bebedouro; comprimidos para dissolver em água e aplicar no bebedouro; pó, etc...

O criador deve seguir as indicações da bula, rigorosamente. Particularmente eu faço a opção por vermífugos em comprimidos. No meu caso a recomendação é de meio comprimido em 100 ml de água. Eu aplico da seguinte maneira:

· No dia anterior, à noite (escurecer) eu retiro todos os bebedouros das aves. Deixo dormirem sem os bebedouros. No dia seguinte preparo o vermífugo, conforme orientação do fabricante, em um único bebedouro. O passarinho estará com sede, pois a primeira coisa que faz de manhã é dar uma bebericada na água. Assim eu coloco o bebedouro em uma gaiola. Observo o passarinho sorver o liquido. Retiro o bebedouro e coloco em outra gaiola. Espero o passarinho beber, retiro e coloco em outra; assim sucessivamente até servir todos os pássaros. Após a confirmação de que todos beberam, pode colocar a água normal. Esse método evita o desperdício de remédios. Cada criador pode cria sua própria técnica.

OBSERVAÇÃO - Particularmente eu reluto em aplicar antibióticos aos pássaros. O antibiótico é muito perigoso e acho que a ave deve ser tratada naturalmente, sem aplicação de antibiótico. Se aplicado em demasia, pode esterilizar tanto o macho como a fêmea. O pássaro pode adquirir disfunção hepática,l além de outras moléstias. Se não houver outra alternativa e a aplicação deve ser executada, tomem cuidado. Muita atenção.

MUDA

As penas das aves são periodicamente substituídas, fenômeno provocado por uma secreção da tireóide que pode ser induzido artificialmente pela injeção dos respectivos hormônios.

Freqüentemente ocorrem duas mudas anuais, a primeira é uma muda parcial que é pré-nupcial, ocorrendo antes da reprodução; substitui apenas as penas do corpo e freqüentemente altera o colorido das aves.

A segunda é uma muda completa ou pós-nupcial, chamada também de muda de descanso, repouso ou inverno. Essa muda substitui tanto as penas do corpo, como as rêmiges e retrizes (asas e cauda).

As penas das remiges são mudadas sucessivamente de duas formas: as primarias são substituídas de dentro para fora e as secundarias são mudadas nos dois sentidos, de dentro para fora e de fora para dentro.

A muda das retrizes ocorre de forma centrifuga, ou seja , começando com as centrais.

A muda se processa de forma simétrica em ambos os lados (asas), principalmente em aves com grande potencia de vôo.

A duração da muda é condicionada por muitos fatores. As espécies pequenas, como os pássaros, mudam em poucas semanas, enquanto as águias necessitam de vários meses. Uma primaria de um pombo, com 17cm, cresce em 40 dias. A muda é diretamente relacionada à época de procriação.

Além dessas duas mudas normais, acontece um fenômeno chamado “muda de susto”, que ocorre quando a ave sente-se amedrontada e ameaçada de morte, especialmente quando a ave é apanhada à noite, dormindo. A ave deixa cair penas, sobretudo retrizes e penas da barriga. Essas penas perdidas são rapidamente substituídas. Esse fenômeno pode ser interpretado como uma espécie de autotomia para salvar a vida, fenômeno análogo à perda da cauda pela lagartixa.

Há uma variação muito grande no ciclo da muda quando se comparam espécies e até indivíduos da mesma espécie que habitam locais diferentes. A muda de aves na natureza está diretamente relacionada às melhores condições alimentares.

Como ocorre na natureza, espontaneamente, em cativeiro temos que suprir essas necessidades alimentares, oferecendo ao curió a maior variedade possível de alimentos, ricos em cálcio, ferro e aminoácidos.

Nessa época a resistência dos pássaros diminui sensivelmente e todo cuidado por parte do criador deve ser tomado. Evitar locais frios o úmidos; não deixar o curió tomar vento, chuva, etc. Manusear a gaiola o mínimo possível. Alguns criadores chegam a cobrir a gaiola com a capa, a fim de evitar que o meio interfira no comportamento do curió.

Basta deixa-lo sossegado. Nesse período para de cantar, fica com a respiração ofegante; diminui o ritmo das atividades; se movimenta pouco e sempre em busca de alimentos. Nesse período a limpeza e higiene são primordiais. Como sua resistência está diminuída, fica mais sujeito a infecções e doenças; portanto a higiene deve ser absoluta. O pássaro nessa época se sente como nós, humanos, nos sentiríamos com uma forte gripe.

Como dissemos, a época de muda varia de região para região. No Sudeste a troca de bico e penas ocorre no período de abril a junho, podendo haver variação,principalmente em função do clima.

Quero dizer finalmente, que o bom senso deve prevalecer e o criador tem a obrigação de “sentir” o que o pássaro está sofrendo. Portanto devemos respeitar a situação do pássaro e não exigir esforços demasiados. Devemos deixar o passarinho “dormir”.

A GENÉTICA NA CRIAÇÃO DE CURIÓS:

Todo curiozeiro, por excelência, é impaciente. Adquiri um pássaro e quer que cante no mesmo dia; o outro quer que seja valente, de fibra e saia quebrando tudo, até a gaiola; ou outro quer tirar ninhadas a todo custo, não importa se o macho é repetidor, se é de fibra, etc.; com a fêmea, então, não quer nem saber a origem. Basta dizer que é “criadeira”, pronto: é a fêmea ideal.

O passarinho mais criado em gaiola, no mundo, é o canário. Qualquer lugar que voce imagine, existe um canário (serinus) na gaiola. O motivo dessa paixão pelo canário é a grande diversidade de opções que o aficionado encontra, ou seja, existem canários de canto (varias variedades), existem canários de porte (inúmeros) e nas cores, então, são mais de quatrocentas. Será que o canário seria tão criado, se não existissem essas variedades todas? Se tivesse ficado só no canário originário das ilhas Canárias, seria tão procurado? Acredito que não.

E tudo isso aconteceu e acontece, graças a um Senhor chamado Mendel, pai da Genética. Tudo que aconteceu na canaricultura, em termos de cruzamentos, foi com base nas Leis da Genética.

E essas Leis parecem não influenciarem os curiozeiros. Raras exceções, dificilmente se ouve falar em um criador que promove a seleção genética a fim de melhorar o plantel. É como disse no inicio: não importa como, mas as ninhadas são obrigatoriedade na maioria dos criatórios.

Um trabalho serio de cruzamento genético, a fim de fixar um caractere e ser definida uma linhagem de pássaros (qualquer espécie), demora no mínimo 5 anos. Talvez seja esse o motivo dos criadores pouco se importarem em melhoramentos genéticos ou, ainda, por desconhecerem como funciona a genética aplicada à criação de pássaros.

Muito se ouve falar: “filhote com genética apurada, filho de fulano com fulana, genética da repetição passada aos filhotes”. Todo dia se encontra anúncios desse tipo. Seria uma maravilha se apenas em um cruzamento todos os caracteres benéficos fossem transmitidos à prole. Talvez, o criador que faz um anuncio desses, nem saiba o que é genética ou como ela funciona.

Vou tentar resumir e explicar o que deve ser feito para fixar qualquer caractere em um passarinho, seja ele repetição, fibra, cor, criador, etc. Canto não, pois o canto é ensinado, é aprendido ao se ouvir outro pássaro cantando ou ouvindo um disco. Isso no caso do curió; não vamos nos aprofundar em outros detalhes.

Como disse no inicio desse manual, estou com cinco curiós novos. Todos são oriundos de um mesmo criador, que tem na sua criação sangue de pássaros repetidores, tanto o macho como a fêmea. A partir desses cinco pássaros vou criar minha linhagem de curiós, no caso pássaros repetidores. O resultado somente será conhecido daqui há cinco anos, ou seja, em 2010.

Dentre esses pássaros que estão comigo, será separado um macho e uma fêmea. Como nessa idade todos cantam, inclusive a fêmea, já estou fazendo as observações necessárias para definir qual a fêmea que mais canta. E elas chilreiam como os machos! Estão sendo determinado os pássaros que mais cantam. Como disse o canto nessa etapa não é prioridade, mas estarão sendo avaliados, também, sobre a facilidade em aprender o canto. No caso o som é de um curió famoso, que emite o canto Praia Grande Super Clássico.

Bem, o melhor macho e a melhor fêmea serão separados e os cruzamentos serão efetuados entre eles. A técnica que vou me utilizar é o retrocruzamento. Funciona assim:

· Desse casal original, vão surgir proles, não sei quantos serão gerados.Na primeira temporada, os filhotes serão separados e avaliados e será escolhida a melhor fêmea. Vamos chamar o macho original de M1 e a fêmea de X1, somente para efeito de identificação e compreensão do que será feito. Desse cruzamento se originarão vários M2 e X2. Doravante os machos não me interessam, somente as fêmeas, portanto vamos esquecer os filhotes machos. Essas filhotas serão separadas e o mesmo critério de escolha será aplicado com elas. Dentre todas que surgirem somente uma será escolhida.

F1 - 2004

· Escolhida a fêmea X2, esta terá 50% de sangue do pai e os outros cinqüenta da mãe. Observe que o caractere que queremos fixar (repetição) é do pai. Portanto tem metade de sangue puro e metade de sangue impuro. Agora vamos efetuar o cruzamento entre pai e filha ( M1 com X2). Surgirão os rebentos. Dentre eles será escolhida a melhor fêmea, conforme processo anterior.

F2 - 2005

· Surgirão desse cruzamento varias X3. Essas fêmeas terão o sangue impuro na proporção de ¼. Portanto 75% de carga genética do macho. Vamos acasalar o macho original M1 com X3 (neta).

F3 - 2006

· O resultado aqui será de fêmeas com 1/8 de impureza no sangue. Ou seja, 7/8 de carga genética do macho original. Nessa proporção o caractere ainda não está fixado e se for efetuado acasalamento com outro macho, tudo se perderá. Agora vamos cruzar o M1 com a X4 (bisneta)

F4 - 2007

· Do cruzamento com a bisneta, a prole herdará 15/16 de carga genética de M1. As fêmeas terão,portanto, 1/16 de sangue impuro. Cruzamos M1 com X5 (tataraneta)

F5 - 2008

· Fêmeas X6, com 1/32 de impureza, com carga genética herdada na proporção de 31/32. A partir desse momento o caractere do pai (macho original) está fixado.

O resultado só poderá ser avaliado nos dois anos que se sucederem. A partir desse cruzamento uma nova linhagem surgirá.

Nesse tipo de cruzamento (retrocruzamento) todos os cuidados deverão ser tomados ao se escolher as matrizes. Tanto os genes desejados como os indesejáveis serão fixados à medida que os cruzamentos vão se realizando. Por isso é que a escolha deve ser feita com critério e calma, porque todo o trabalho vai depender da escolha do macho inicial.

Viram por que os criadores relegam o melhoramento genético? Porque dá trabalho, envolve paciência, critérios terão que ser avaliados, enfim o trabalho é grande e a paciência maior ainda.

Vale a pena? Vale e muito. Findo esse prazo, o criador terá sua própria linhagem de curiós.

A partir de F4, acima, o criador poderá efetuar o cruzamento com tantas fêmeas forem geradas. A partir de F5, poderá efetuar acasalamentos com machos e fêmeas que todos nascerão com a carga genética original. Assim o plantel surgido poderá ser de inúmeros animais, todos com o caractere fixado (repetição)

Somente a partir de F2 ou F3 é que começarei a me preocupar com o canto. A partir desse momento os cantos serão apurados, para se chegar ao final com Mestres cantores já formados.

Para realizar um projeto desses, a paciência e a perseverança são fundamentais. Espero que pelo menos um, daqueles que adquirirem este manual, se disponha a trabalhar dessa forma, com profissionalismo tentando atingir um objetivo pré determinado, qualquer que seja, canto, fibra ou qualquer outra qualidade que o nosso curió possui.

ACASALAMENTO

REPRODUÇÃO:

No atual estagio em que se encontra a criação de curiós, obter sucesso na procriação dessa espécie não é tarefa tão difícil. Em liberdade, na natureza, o curio é muito agressivo e repele qualquer intruso com violência. Em cativeiro não é tão diferente. Mantém o instinto territorialista e ataca outros machos, principalmente na época da procriação.

Me lembro, não há muito tempo, que para se obter sucesso na criação de curiós, você tinha que proceder a um verdadeiro ritual. O acasalamento só ocorria em viveiro, que deveria estar plantado, para simular o habitat do animal. Atualmente os curiós procriam em gaiolas comuns, gaiolões, etc

Eu utilizo gaiolões com ninhos internos. Eu construo os meus gaiolões de forma padronizada. Utilizo também gaiolas redondas de numero 3, no Maximo, por questão de economia de espaço e, também, porque não participarei de torneios. A gaiola quanto mais simples, mais funcional. Para facilitar o manejo, o criador pode adotar todas as gaiolas internas do criatório, de forma quadrada, podendo dessa forma, sobrepor as gaiolas sem qualquer prejuízo para os pássaros.

Os gaiolões de criação, que utilizo, são fabricados em módulos, podendo ser acoplados, formando gaiolões do tamanho que desejar. Os módulos são de 30cm x 30cm e 30cm x 25cm, para formarem a gaiola com 30 x 30 x 25 de fundo. Esses módulos podem ser acoplados formando gaiolões com múltiplos de 30.

Os machos galadores podem ser acomodados em um modulo desses, facilitando o manejo na época da reprodução, principalmente para quem trabalha no sistema de poligamia (um macho para cada 6 a 8 femeas).

Para concretizar o acasalamento, alguns procedimentos dever ser tomados. A fêmea deverá estar no gaiolão com o ninho já há algum tempo, para ir se familiarizando com o ambiente, etc. Próximo do acasalamento a fêmea vai mexer no ninho (forneça raízes de capim; evite fios e linhas; os filhotes podem se ferir). Quando o ninho estiver construído e pronto, a femea aceitará o macho. Durante todo esse tempo o galador deverá estar presente no mesmo ambiente, para que a fêmea o ouça cantar e facilitar, assim, a gala. Dificilmente uma fêmea aceitará gala de um outro macho que cante diferente do canto que ela ouviu por varias semanas.

Bem, o ninho pronto, o macho no mesmo ambiente. Aproxime o macho ou solte-o no gaiolão, que deverá estar com a divisória. Depois de algumas horas o criador perceberá se a fêmea aceita ou não o macho. Retire a divisória. Se puder ficar observando o macho galar a fêmea, retire-o assim que acontecer. Mas deixe que faça a gala pelo menos duas vezes. Se não puder observar, retire o macho no final do dia, que com certeza o cruzamento foi efetivado. Deixe o macho descansar por uns 5 a 7 dias e pode solta-lo com outra fêmea. Esse procedimento é para o sistema de poligamia.

Se o sistema de criação for outro, com casais formados e juntos, o procedimento será o mesmo, só que ao invés de retira-lo após a gala, deixe-o no gaiolão. Apenas observe, na época que os filhotes já estiverem saindo do ninho, se o macho não irá agredir os filhotes, pois para ele, os filhos são intrusos que estão disputando território com ele. Se acontecer isso, separe-o com a divisória.

Com relação aos ninhos, existe no mercado, à venda, elaborados com vários materiais. Os mais utilizados e que as fêmeas aceitam com maior facilidade são os confeccionados de bucha e corda. O criador deve observar que o diâmetro desses ninhos não pode ser menor ou maior que 8cm. Até há pouco tempo eu mesmo confeccionava os ninhos de bucha, mas como existem no mercado e são bem feitos, prefiro adquirir.

PREPARAÇÃO DAS FÊMEAS:

Na época de separação dos filhotes da mãe, os sexos já deverão ser conhecidos. O criador pode identificar o sexo, através dos ovos. Os ovos mais pontudos serão fêmeas, os mais rombudos (redondos) gerarão filhotes machos. Essa regra pode ter exceção.

Identificada a fêmea, coloca-la no local onde serão efetuados os acasalamentos, ou seja, gaiola criadeira, gaiolão, etc. e deixa-la no ambiente definitivo, para ir acostumando, evitando problemas de adaptação na época de procriar.

Dois ou três meses após a segunda muda, que acontece em torno dos seis meses, a fêmea já está pronta para procriar. É importante que as fêmeas sejam criadas de forma individual, para se desenvolverem normalmente, como a natureza determina.

Alguns criadores costumam criar as fêmeas juntas, em gaiolões, viveiros, etc. Esta forma não é correta. Desde jovens precisam desenvolver seu instinto territorial e ter seu próprio local. As fêmeas tratadas dessa forma, se criadas coletivamente, perdem o comportamento típico de fêmeas; muitas chegam a por ovos sem gala, mas não “deitam” no ninho para chocar. Apenas se tornam poedeiras, mas não mães. E, também, dificilmente aceitam a presença de macho.

A “casa” da fêmea já deve ser arrumada assim que for transferida. Na gaiola de reprodução o ninho deverá estar no local, raízes de capim ou outro material, deverão estar disponíveis para ir despertando na fêmea o interesse pelo ninho e, assim, desenvolver a forma física e entrar no ciclo reprodutivo.

Com o passar dos dias o criador poderá observar que ela estará mais interessada pelo ninho, até a fase em que ela passa a freqüentar o interior do ninho, rodopiando, com uma raiz no bico. O macho deverá estar presente no ambiente, cantando para ela.

Quando o criador observar que a fêmea se abaixa, abre as asas e fica piando: “ti ti ti ti ti”, esse é o momento do acasalamento. O macho ouvindo a fêmea pialar, com seu canto característico, fica fogoso. Se possível colocar um ninho, também, na gaiola do macho. Essa pratica incentiva o macho, que fica chamando a fêmea para o acasalamento.

Na natureza os curiós estão prontos para o acasalamento entre os 7 e nove meses. Enquanto a fêmea prepara o ninho, o macho canta o tempo todo, sem parar, para incentivar a fêmea e afugentar os intrusos.

Em cativeiro é a mesma coisa. Nessa fase não deixar faltar alimentos e água fresca à vontade. A fêmea necessitará acumular energia para poder fazer uma postura sem problema e chocar os ovos sem se enfraquecer em demasia.

Uma fêmea jovem bem iniciada em seu ciclo reprodutivo, será para sempre uma boa poedeira e uma ótima mãe.

Se a filhota ouviu desde o ninho um tipo de canto,por exemplo o canto praia, dificilmente aceitará a gala de um macho que canta diferente. Por isso é importante o criador escolher uma linha de canto e montar seu plantel de acordo com o canto escolhido. Da mesma forma, se ela for retirada do ambiente onde procriou por duas ou três temporadas, terá dificuldade em procriar em outro ambiente. Sempre que for mudar a fêmea de local de criação, recomendamos seja efetuada a transferência no período de muda ou alguns meses que antecedem o inicio da temporada de acasalamento. Assim a fêmea terá tempo para se adaptar ao novo local.

As fêmeas novas aprendem a se alimentar assim que são separadas da mãe, aos 30 dias. O alpiste é muito importante para o sucesso na criação de filhotes. A fêmea que aprende a se alimentar de alpiste, com certeza irá alimentar sua prole com essa semente. E, uma fêmea que trata dos filhotes com alpiste dificilmente perderá uma ninhada. Outras sementes podem ser oferecidas, mas em quantidade menor e sempre separadas, jamais misturadas.

Como já dissemos, o assunto alimentação é polemico e cada criador tem sua receita própria. Mesmo possuidores de receitas infalíveis não abrem mão do alpiste. Essa semente é primordial na criação de curiós.

Existem no mercado, hoje, vários tipos de rações completas. Uma das boas rações, que o curió aceita com facilidade é a ração especifica para curiós e bicudos, da Alcon.

A escolha e decisão, é do criador.

FILHOTES:

A mãe cuida sozinha dos filhotes. Basta que as condições para isso sejam oferecidas a ela. Ela choca, trata e cuida da higiene. O curió é por excelência uma ave que adora higiene. Não tolera gaiolas sujas, comida mal elaborada e chega até a tentar retirar as anilhas dos filhotes, quando anilhados ainda no ninho. Portanto é recomendável se precaver e colocar as anilhas quando estiverem próximos de sair do ninho. A fêmea não tolera sujeira ou objetos estranhos no ninho. Outro motivo para anilha-los mais tarde,é que se o anel for colocado com 4 ou 5 dias antes de saírem no ninho, os filhotes vão relutar em voltar e ficar no ninho. Muito novinho podem querer sair do ninho e se ferir, quebrar uma perna ou asa.

A postura é de 2 a 3 ovos, podendo acontecer casos de 5 ovos por postura. Os ovos serão chocados, pela fêmea, por 12 dias. Findo esse prazo, os filhotes nascem e em torno de mais 10 dias saem do ninho.

Durante o choco, nada impede que seja colocada uma banheira para a fêmea se banhar. Isso até ajuda na choca dos ovos e facilita a eclosão dos ovos, requerendo menos esforço dos filhotes para quebrar a casca e sair. Imediatamente após o nascimento os banhos deverão ser suspensos, pois a fêmea pode retornar ao ninho, molhada, e prejudicar os filhotes.

Alguns criadores recomendam deixar luzes acesas, na quantidade suficiente para que forme uma penumbra no ambiente. Esse ambiente seria criado com utilização de lâmpadas de 40 watts. A alegação é que as fêmeas chocando ou com filhotes, podem observar o ambiente e se precaver com a presença de algum intruso, como lagartixas ou outros insetos. Não utilizaria esse sistema; primeiro porque o relógio biológico do pássaro seria alterado; segundo porque mesmo nesse ambiente, se aparecer algum outro inseto ou lagartixa para atacar o ninho, a fêmea apenas assistirá passivamente a lagartixa destruir os ovos, sem nada fazer. Não acho justificativa para manter luzes acesas.

Após o desmame os filhotes são colocados em gaiolões para poderem se exercitar. Aos 60 dias, no máximo, cada individuo deverá ser separado e colocado em sua própria gaiola.

Quanto à alimentação já descrevemos acima.

Basicamente o que manejo dos filhotes é fácil e não tem segredos. Não se esquecer que os filhotes adoram tomar banho, portanto colocar uma banheira com água limpa para que se banhem.

Ah! Não se esquecer do som para ele ouvir e ir aprendendo o canto que voce escolheu.

CANTO:

A ave produz sua voz na siringe, localizada na extremidade inferior da traquéia, na bifurcação dos brônquios. Nisso difere do homem e dos mamíferos em geral, cuja voz vem da laringe, situada na extremidade superior da traquéia.

O canto dos Passeriformes, principalmente dos Oscines, altamente desenvolvidos, deve ser aprendido parcialmente. Apenas a base é inata, ou seja, é herdado geneticamente. As chamadas são perpetuadas geneticamente e mesmo os melhores imitadores da natureza como o gaturamo, que pode imitar, em poucos minutos, a voz de 10 a 16 pássaros, não consegue imitar. As chamadas são inerentes à espécie e podem refletir varias situações, desde o alerta, perigo, chamado à fêmea, alegria, etc

Na natureza os pássaros aprendem o canto, ouvindo outros da espécie, aproximadamente em 100 dias. Quando a incidência de indivíduos da mesma espécie, em determinado local, é pequena, o jovem ouve outras aves e aprende parte do seu canto, entremeando a base, que é inata, com o som dos demais. Nascem, dessa forma, os dialetos.

O embrião ainda dentro do ovo toma contato auditivo com seus genitores. Existe, inclusive, a recíproca de embriões através da casca, que consiste de estalos, e por meio da qual é sincronizada a eclosão dos ovos da mesma ninhada. Estudiosos afirmam que tais estalos e sons estão relacionados com a respiração, por conseguinte não se trata de voz.

De qualquer forma, o importante e que devemos nos atentar, é que ainda dentro do ovo os filhotes já ouvem os pais.

OS CANTOS DOS CURIÓS:

Existem catalogados cerca de 100 cantos diferentes de curiós. Cada canto tem sua peculiaridade e é apreciado nas regiões de origem. Assim o Praia Grande é apreciado em São Paulo, o Florianópolis em Santa Catarina, o Paracambi no Rio, e assim sucessivamente. Os cantos, normalmente, recebem o nome do local onde se originam.

Alguns cantos regionais:

VITEU - Bahia

VI VI TÉ TÉU - Pernambuco

VOVO VIVIU - Alagoas

PARACAMBI - Rio de Janeiro

TIMBIRA - maranhão

CANTO AMAPÁ - Amapá

O curió, como os demais passeriformes, herdam dos pais apenas a base do canto e o restante é aprendido ouvindo outro pássaro da mesma espécie ou, como se utilizam os criadores, ouvindo gravações que reproduzem o canto desejado.

Para se ter um bom cantor, o treinamento deve começar desde o acasalamento, passando pela fase do choco e assim durante toda a vida do passarinho. Uma vez iniciado o treinamento é recomendável que não seja interrompido, podendo ser aumentado os intervalos com que o curió ouve a gravação.

O criador deve escolher um canto gravado especifico para treinamento de filhotes e tocar esse som com o passarinho ainda no ovo. Numa segunda fase, após os 9 meses e dependendo da desenvoltura do curió, poderá ser introduzido de forma lenta uma gravação para pássaros adultos. Essa transição de canto não deve ser abrupta. O criador pode colocar a primeira gravação por meia hora, descansa meia hora. Coloca a segunda gravação, toca meia hora descansa meia. De forma alternada, vá introduzindo a nova gravação, repetindo duas, três vezes, depois toca uma vez a primeira; e assim por diante.

Cada criador tem sua teoria a respeito do tempo que o filhote deve ouvir a gravação. Alguns deixam o som durante 2 horas e descansam uma; outros tocam o som durante 1 hora e descansam meia hora; outros deixam o som ligado durante a noite; alguns já ligam o som antes do passarinho acordar; então é difícil se chegar a uma “receita” ideal do método a ser aplicado no ensinamento de filhotes.

Eu adoto o sistema de tocar meia hora, descansar meia; tocar uma hora e descansar uma hora; assim alternadamente durante o dia. Antes de ligar o som, deixar o passarinho “acordar”, se alongar e começar a se movimentar na gaiola. Da mesma forma, à tarde, desligar o som no inicio do crepúsculo. Respeitar esse horário, pois é quando o passarinho ingere as ultimas sementes do dia e bebe o ultimo gole de água, antes de se acomodar no seu cantinho na gaiola e dormir.

O curió aprende a cantar em etapas, como uma criança aprende a falar. Dessa forma será mais trabalhoso e árduo o trabalho de querer introduzir um canto de pássaro adulto em um filhote de 60 dias. É aos poucos que ele vai memorizando, aprendendo o canto. Somente depois de dominada perfeitamente essa parte do treinamento é que um canto mais elaborado pode ser introduzido.

Duas são as fases em que temos que concentrar os esforços para ensinar os filhotes. Segundo os estudiosos do assunto, a primeira é com a ave ainda no ninho e a outra é quando ele está fogoso, perto da época de cruzamento.

Segundo alguns estudiosos, o filhote consegue gravar as notas de canto nos primeiros dezessete dias de vida, portanto, ainda no ninho sob os cuidados da mãe.

Esses momentos são aqueles em que ele está mais propenso a aprender. Devemos, então, se possível, retirar a fêmea com o filhote no ninho de locais onde ele possa escutar algum tipo de canto que não queremos que aprenda. Nesse novo local só tocaremos a gravação escolhida

O tempo necessário para treinamento de um passarinho é incerto. Vai depender do pássaro. Tem passarinho que com 90 ou 120 dias já estão cantando; outros demoram um pouco mais, até 9/10 meses; e ainda tem alguns que demoram até anos para aprender corretamente. Então, falar em tempo quando se trata de treinar filhotes é jogar conversa fora. Não há tempo pré-determinado. Mas o criador não deve desistir da empreitada; deve continuar até à exaustão. Um dia, o passarinho solta o canto.

Os filhotes passam por três estágios de aprendizado: o primeiro estágio vai até os primeiros 60/90 dias de vida podendo haver variações para mais ou para menos; nesse período o filhote chilreia (churria) e até essa fase não é prejudicial deixar dois ou três filhotes próximos. A segunda fase é a de marcar notas, ou seja, é um chilreado (churriado) mais definido, cheio de altos e baixos, com as notas mais perceptíveis ao ouvido; nessa fase os filhotes ficam em torno de mais 30/60 dias.Ao inicio dessa fase, se tiver mais de um filhote, é aconselhável separa-los, ou ficar com apenas um filhote no ambiente. Findo esse prazo, os filhotes entram na fase do assovio. Esse terceiro estágio é quando o passarinho solta o canto aprendido durante as fases de ensinamento.

A melhor forma de ensinar um pássaro a cantar é o método natural, ou seja, com o próprio pai. Essa é a lei da natureza. O pai canta, o filho ouve e aprende, para mais tarde assumir o seu lugar e papel.

Mas, em ambiente domestico, isso nem sempre é possível. São vários os fatores que contribuem para que isso não seja possível, como por exemplo: o pai não tem o canto que desejamos, canta com defeito, o ambiente do criatório não é o ideal,etc.

Existem, também, outros fatores que dificultam ao filhote o aprendizado: som muito alto, ambiente inadequado para se ouvir o som, outros barulhos e movimentos que podem tirar a atenção do passarinho e causar estresse, etc.

Locais como banheiro, cozinha, etc, que tenham as paredes azulejadas, ou outro tipo de revestimento que não absorva o som, não são recomendados para treinar curiós, ou outros pássaros, pois a tendência é que o pássaro cante com voz metálica, devido ao “eco” que essas paredes podem causar. O ambiente deve conter objetos que ajudem a absorver o som e não refleti-lo, como moveis cortinas, tapetes, etc.

Não se deve ensinar o canto para mais de um filhote de uma vez, notadamente depois que ele começa a ensaiar o canto; isto com relação ao canto Clássico; se for outro tipo de canto, como o praia liso, pode-se treinar mais de um pássaro no mesmo ambiente.

Se a quantidade de mestres superar o numero de aprendizes não há problema em se ensinar mais de um filhote de uma só vez, porque prevalecerá o canto da família, o mesmo dialeto.

Muitos criadores adotam a cabine acústica, onde se isola o individuo a ser ensinado, com um alto falantes embutidos na caixa. O pássaro fica confinado nesse receptáculo ouvindo o som. Não adoto esse sistema.. A ave tem que interagir com o ambiente. O ambiente deve exercer influencia positiva no treinamento e conseqüentemente no aprendizado. Criadores adotam esse sistema de caixas acústicas, mais pela comodidade que elas oferecem.

Creio que esse sistema deve ser adotado como ultimo recurso.

Existe um método, que acho o mais correto e estou adotando, porém é pouco difundido. Vou tentar explica-lo.

Na natureza o filhote aprende o canto, o dialeto local, ouvindo outros pássaros da espécie. Como é esse aprendizado na natureza? O pai fica cantando no ouvido do filhote o dia todo? Não. O filhote aprende o canto ouvindo o pai cantando lá longe, porque o filhote foi expulso do território do pai. O pai canta aqui, outro individuo responde lá longe. Ficam nesse desafio, disputando território ou avisando “estou aqui” , o filhote e outros jovens ficam ouvindo e aprendendo. Em breve o próprio filhote estará entrando nessa “briga”, timidamente no inicio, vai pegando confiança e se tornará dono de um território.

Observei essas cenas e ouvi esses cantos inúmeras vezes, ao vivo, no interior da Bahia, na região de Condeúba.

Como reproduzir essa situação em cativeiro? Um pássaro cantando aqui, outro respondendo acolá?

Graças aos recursos tecnológicos disponíveis podemos recriar essa situação, em cativeiro. Temos aparelhos reprodutores de som com 3, 4 canis ou mais. Vamos nos basear em um aparelho com dois canais de saída, ou seja, um aparelho estéreo. Facilmente podemos reproduzir o cantar dos curiós na natureza. Basta que a fita ou CD a ser reproduzida esteja gravada dessa maneira. Podemos gravar o som a ser aplicado ao filhote da seguinte forma: em um canal grava-se um canto curto, no outro canal grava-se um canto mais longo, com repetições. Dá-se um pequeno intervalo e repete-se a operação, assim sucessivamente quantas vezes forem necessárias para completar um cd ou fita.

Na reprodução do som, para o filhote, fazemos o seguinte: suponhamos que o filhote esteja em um quartinho (dependências da empregada). Coloca-se uma caixa de som próximo ao local, executando o som de um dos canais; regulamos o volume na própria caixa de saída; mais distante coloca-se a outra caixa, que vai reproduzir o som do outro canal de saída. Então o curió ouve um canto “lá longe” e outro aqui “mais perto”.

Se for ao ar livre, melhor ainda; o som poderá ser trabalhado de forma mais precisa e não haverá reverberação, devido às paredes que existem se for em ambiente interno, fechado.

Com esse sistema de treinamento, o filhote aprendiz poderá ouvir 2, 3 ou até mais cantos, desde que todos sejam no mesmo dialeto. Inclusive pode ser aplicado a pássaros já formados, para corrigir falhas no canto ou melhora-lo.

Estou preparando uma gravação para trabalhar dessa forma. Acredito que seja a mais perto da realidade. Em breve estarão disponibilizadas e os interessados podem entrar em contato.

De todos os sistemas e formas de treinamento, acho esse o mais indicado, mais próximo da naturalidade. O problema é que não existe um estudo cientifico ou mesmo um estudo mais aprofundado sobre os sistemas de introdução de canto em filhotes. E, por falta desse estudo, muitos criadores submetem os filhotes a um verdadeiro bombardeio de cd e fitas, sem saber contudo, o resultado final disso tudo.

Finalmente quero dizer que, para se formar um passarinho para pendurar em estaca, nos torneios, todo o procedimento deve ser tratado com muito cuidado. O pássaro não pode ouvir outro canto de forma alguma. O pássaro não pode “duelar” com outro, a não ser que seja o mestre cantor; o passarinho não pode ouvir fêmeas e muito menos vê-las. É um trabalho constante, sem descanso; não tem sábado, domingo, feriado, carnaval, etc.... são todos os dias na mesma rotina, até que se atinja o objetivo desejado. Boa Sorte!